quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Artes Plásticas / artista convidada: Talita Barbosa

Talita Barbosa

Artista Plástica / Lorena-sp
e-mail: talita_bar@yahoo.com.br

Com um estilo que muitas vezes remete uma linguagem urbana e contemporânea, Talita Barbosa desenvolve um trabalho autoral rico em cores fortes, elementos gráficos característicos, delineados por um traço vigoroso e preciso, que equilibra os elementos contrastantes de sua obra (por mais antagônico que isto possa parecer a princípio) ela consegue imprimir um ritmo agradável aos olhos do observador mesmo quando se utiliza de signos que destoam tanto entre si.



Coisas do acaso ou não, encontrei esta simpática artista quando cursamos juntos o mesmo curso de Design Gráfico e Webdesign daqui da cidade.
Apesar de sentarmos a poucos centímetros um do outro, mal sabíamos que tínhamos um mesmo gosto em comum (afinal quem poderia imaginar que também como eu, Talita abandonara a pacata tranqüilidade interiorana para se aventurar na capital em busca de conhecimento numa área tão difícil como esta).


A Primeira vez que mencionou em sala de aula que era artista plástica e que também produzia foi uma risada só, até o professor sucumbiu as gargalhadas (afinal imaginei que era o único “patinho feio em sala”) quem poderia imaginar que entre nós estava uma artista tão talentosa?

Os trabalhos que apresento a seguir fizeram parte da exposição “Nossos Índios, nossa história” realizada em 2006 pelo Centro Cultural Teresa D´Ávila pela Fatea de Lorena há alguns anos e que Talita cedeu com o maior carinho a esta edição.

A seguir uma bacana resenha falando da proposta da exposição por Sônia Siqueira (que por tabela expõe um tema muito atual em nossos dias, que é a discussão de arte e cultura).
Espero que curtam tanto quanto eu, afinal não é sempre que uma colega de classe vira artista da noite para o dia (rsrs) não é mesmo?
(Boa leitura e não esqueçam de comentar no final do post).


“Nossos Índios, Nossa História”
por Talita Barbosa
prefácio por Sônia Siqueira.



"Uma mesma civilização produz simultaneamente duas coisas tão diferentes como um poema de T. S. Eliot e uma canção de Pan Alley, ou uma pintura de Braque e uma capa do Saturday Evening Post. Todas elas são manifestações culturais e, aparentemente, fazem parte da mesma cultura e são produtos da mesma sociedade. No entanto, sua associação parece terminar aqui". (GREENBERG,1996, p.22)

Neste texto Greenberg, um dos teóricos da "action painting", voltou-se para a arte e a cultura de massa. As duas, afirmou o crítico, existem e são produzidas na mesma sociedade, aparentemente como elementos de uma única cultura. Entretanto, atacou o que via como kitsch de seu tempo – música popular, ilustração de revista e a arte acadêmica.
O destino da arte contemporânea afastou-se da idéia de assumir o domínio sobre a vida e impor a ela o grande estilo para abrir-se para vida por meio da "arte cultural", uma arte que suscita discussões em torno das formas visuais e corporificações das relações de poder na cultura como um todo; que usa uma linguagem passível de ser decodificada por cada espectador sem a mediação do crítico, do especialista. A arte, enfim, assimila o estilo do mundo. "[...] As práticas e valores das belas-artes ou da “arte culta”, exemplificados pelas noções modernistas de “autonomia e autocrítica”[...](WOOD, 1998,p.71), não podem ser mobilizados no contexto atual em que os objetos do dia a dia, os objetos de consumo, foram retificados e adquiriram valor estético, e a questão do valor da reprodução insigne tomou o lugar da questão da produção da idéia artística.


Neste mundo de belas imagens, em que a própria imagem publicitária tornou-se uma mercadoria, em vez de simplesmente anunciá-la, e comportar-se em sua estética de maneira quase autônoma, como se prescindisse das mercadorias: ela vende a si mesma. Como produto de massa, a publicidade ofusca a visão do objeto e oculta a ilusão, que é sua verdadeira natureza, atrás do pretenso efeito das mercadorias que exalta. Nessa estratégia da aparência tornou-se a rival indesejada da arte. Ela também estetizou nosso ambiente de maneira tão desinibida que arrebata à arte alguns de seus domínios públicos. Numa brincadeira de gato e rato, restando à arte transformar em tema a ilusão que é desmentida insistentemente nos produtos publicitários. É neste espaço conquistado e/ou permitido às vanguardas que se insere o trabalho de Talita Barbosa: Nossos Índios, nossa história.

Talita não faz dele um panfleto contra a situação do indígena brasileiro ou transforma, nas telas, yanomamis, arawetés, guaranis mbya, pataxós, mehinakus, yudjás, kayapós, enawenê nawês em ícones do massacre imposto pelo branco, pela cultura ocidental. Muito pelo contrário, lança mão de elementos da cultura de massa, da propaganda para ressaltar a especificidade da cultura indígena. "Hoje não mais se assimila cultura pela observação silenciosa como se olha uma imagem fixamente emoldurada, mas numa apresentação interativa, tal como um espetáculo coletivo. [...] Desaparece também a paciência para o exercício cultural obrigatório e surge o desejo pela cultura como entretenimento, que deve causar surpresa em vez de ensinar. [...] Em vez de representar a cultura e a sua história de maneira rigorosa e irrepreensível, a arte participa de rituais de rememoração ou, conforme o nível de formação do público, de revista de entretenimento na qual a cultura é solicitada a entrar em cena novamente." (BELTING, 2006, p.26)


Esta é, em síntese, a proposta de Talita Barbosa, "cultura como entretenimento, que deve causar surpresa em vez de ensinar. [...]revista de entretenimento". Os índios, as nações, são apresentados em cartuns com tarjas que lembram fotogramas, em cores fortes, traços precisos e econômicos, formas simplificadas que se remetem aos personagens de South Park, muitos adereços e pinturas corporais.
Os sinais da submissão, da perda da identidade cultural, os ritos de passagem ou de guerra foram subvertidos pelo cartum, pelos fotogramas, cores, linhas, signos, enfeites que lembram cenários midiáticos, porque o espectador atual exige "[...] a realidade de reprodução das mídias imagéticas.[...]" (BELTING, 2006, p.113) Fato este que Walter Benjamin jamais podia imaginar quando escreveu sobre arte concebida para a reprodutividade.



Referências Biográficas:

BELTING, Hans. O fim da história da arte: uma revisão dez anos depois. São Paulo: Cosac & Naify, 2006.
GREENBERG, Clement. Vanguard e kitsh. In: Arte e cultura: ensaios críticos. São Paulo: Ed. Ática, 1996. p.22-39.
WOOD, Paul et al. Modernismo em disputa: a arte desde os anos quarenta. São Paulo: Cosac & Naify, 1998.

4 comentários:

  1. Oi Talita... Adorei rever seus trabalhos e ainda mais, na mais fervilhantes das mídias. Parabéns, com saudades de vc. abração bjos .
    Nilze

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  2. Querida amiga Talita,

    È sempre um prazer poder rever teus trabalhos. Me considero um fã, e adimiro muito toda esse seu talento e criatividade.
    Enfim vc é uma artista de peso, e o sucesso é inevitavel.
    Muitas saudades sempre de vc!
    bjs
    Carla

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  3. tenho é que dar os meus parabens a talita...dedicada e talentosa...seus trabalhos vão longe...

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