quinta-feira, 24 de setembro de 2009

sábado, 19 de setembro de 2009

Editorial

Papel & Pixels nº1 / Setembro 2009
Editorial




















Putz parece sonho...Será que exagerei na minha grama de “soma” diária?
- Alguém me belisca aí!
- Aaaaaau, era só brincadeira...(rsrs).
Hematomas à parte, a realidade acaba sendo mais fantástica do que se imagina (que o diga Jacques Bergier, Charles Fort e Lowis Palwels) afinal vejo hoje mais um ciclo terminando pra que outro tome seu lugar... Será verdade? Dessa vez sim.

Quando moleque sempre ouvia meu tio brigar comigo a respeito de meus desenhos (no bom sentido, diga-se de passagem).
Eu o visitava no meu período de férias escolares ali em sua casa no Butantã e passava as horas preciosas do descanso dele vendo-o desenhar, fazer esculturas e ouvindo-o falar a respeito de arte, música, literatura enquanto espreguiçava minhas costas cansadas de ficar debruçado horas na prancheta.

De origem interiorana e humilde como eu, António de Pádua (eu o sempre chamava de Tio Toninho) sempre foi um inquietante e talentoso artista, saíra do interior do estado onde passava os períodos de ócio na agricultura e pecuária familiar a desenhar burros xucros, palmeiras e sertanejos, e mudara-se para São Paulo para estudar artes. Formara-se pela fundação Armando Álvares Penteado ainda jovem, e de uma carreira promissora nas artes plásticas (acabou-se enveredando na televisão como aderecista e hoje como cenógrafo na Redetv ainda utiliza seus vigorosos traços para construir belos cenários).
O tenho como meu primeiro mestre ou “mecenas” (ele sempre me dava algumas folhas bacanas de craft, uma crítica construtiva a respeito do trabalho e uma janta bem quentinha no fim de noite) hehehe.
Sempre me impressionei com tanto talento numa pessoa só, desde seus desenhos antigos da época da fazenda (que eu amava e ele achava acadêmico) até suas obras conceituais que muitos não entendiam (mas que sempre achei inquietantes e questionadoras) fora às conversas incomuns que tínhamos durante altas horas da noite.
Foi ele quem me incentivou ao primeiro caderno de esboços, que me estimulou muitas vezes quando olhava para meus traços e eu não via mais que rabiscos (felizmente ele via algo mais) e me mostrou o bê-á-bá do negócio. Tenho um profundo respeito por sua pessoa afinal teve a mesma origem que a minha, passou as mesmas aflições que todos passam com o desenho, desde o trabalhoso processo de aprendizagem até a inquietante etapa onde definimos um fim para tudo aquilo, seja como hobby, profissão ou mesmo para entulhar gavetas.

Numa daquelas noites frias de São Paulo discutimos até altas horas da noite tomando xícaras de café amargo enquanto David Coverdale, Beach Boys ou a trilha sonora do filme Transpoting tocava no CD Player.
A tônica da descontraída palestra era sobre a inércia, mas não tendo em vista o aspecto cartesiano da palavra, mas sim refletindo sobre um prisma totalmente diferente para mim.
Ele falava sobre uma linha imaginária que muitos tentavam ultrapassar, mas não conseguiam e de como era rara e ínfima a quantidade de pessoas (ou artistas) que contribuíam para que aquela linha avança-se apenas alguns milímetros (chego a pensar na Grande Obra dos alquimistas), mas não era disto que ele estava falando.

- A linha estava lá diante de todos, você não vê?
- Mas quem se atreve?

- É preciso vencer a inércia (ele dizia)...
- É preciso vencer esta maldita inércia que nos entorpece (eu pensava).

As palavras dele ecoaram por tempos até que me esqueci por completo (pelo menos aparentemente) foram ressurgir anos mais tardes quando me mudei para São Paulo e freqüentei academias de arte. Amigos, professores e artistas diziam a mesma coisa respeito do meu trabalho:
- Faça alguma coisa, produza algo, sei lá... Resumindo, rompa com a inércia.

Romper com a inércia não é fácil, (essas horas gostaria de estar deitado na minha cama solando uma pentatônica), mas acho que não seria tão proveitoso quanto estar aqui escrevendo, afinal à medida que me dispus a esta proposta, os trabalhos foram surgindo vigorosos, os amigos artistas foram se juntando, a sinergia foi acontecendo, quando vi tinha um material humano interessante demais para engavetar.
Não sei quantos números este blog-zine vai render (afinal tive a idéia de fazer na net porque e tirando a preguiça, não ia ter outra desculpa do tipo não tenho grana para custear o papel ou algo do tipo).

Neste número, uma salada mista bem bacana de quadrinhos com temática incomum (por este que vos fala), um conto geek pela admirável cantora Luana Câmara (uma mente perspicaz demais para apenas 19 anos), as poesias viscerais de Morgana Fonta, uma interessante matéria sobre música eletrônica pela DJ Flávia Liss, o trabalho singular da artista Plástica Talita Barbosa além de uma entrevista bacana com o editor de a Revista Ilustrar sobre desenho, ilustração e mercado editorial.
Espero que aproveitem tanto quanto eu:

- Afinal é preciso romper a inércia... Abraço.

(o editor)

Staff & Índice

Papel e Pixels
número 1
Setembro 2009





















Índice

Postagem 1
Boas vindas.
Postagem 2
Staff e editorial.
Postagem 3
(HQ) Quadrinhos, Quadrões ou Arte Sequencial / por Apollo Magno
Postagem 4
(Música Eletrônica) O poder da música na vida de cada pessoal / por Flávia Liss.
Postagem 5
(Conto ficcional) Coração de lata / por Luana Câmara.
Postagem 6
(Poesia) Imagens, Infinita Demais e Inês / por Morgana Fonta.
Postagem 7
(Ilustração) PPPx entrevista Ricardo Antunes / editor da Revista Ilustrar e autor do Guia do Ilustrador. Postagem 8
(Artes plásticas) exposição: "Nossos Índios, Nossa História" / por Talita Barbosa, comentários Sônia Siqueira.
Postagem 9
Agradecimentos e Próxima edição.


Staff

Apollo Magno
(Capa, Quadrinhos, Ilustração,
textos de apresentação, diagramação,
formatação do blog e edição)









Dj Flavia Liss
Coluna sobre música eletrônica, onde apresenta
os primórdios deste estilo musical
(contato:
dj.flavialiss@hotmail.com











Luana Câmara
Coração de Lata
, conto de ficção científica
belamente escrito para esta edição.
contato:
luanascamara@hotmail.com











Morgana Fonta
Talentosa artista que nos presenteia
com um rico trabalho autoral,
apresentando 3 do seu portfolio recente.











Ricardo Antunes
editor da Revista Ilustrar e autor do Livro Guia do Ilustrador
é o entrevistado especial desta edição num bate-papo bacana sobre
Ilustração, o mercado e a profissão.
contato: ricardoantunesdesign@gmail.com












Talita Barbosa
Apresenta os trabalhos de sua Exposição
" Nossos Índios nossa história" e ainda a crítica pertinente
de Sônia Siqueira sobre a mesma, discutindo
sobre arte contemporânea.
Contato:
talita_bar@yahoo.com.br




História em Quadrinhos / artista convidado: Apollo Magno

Apollo Magno

Artista gráfico /
Guaratinguetá - sp
contato: apollomagno@hotmail.com
site: http://apoloart.blogspot.com













Quadrinhos,
Quadrões ou
arte sequencial?
texto, hq's e ilustrações: apollo magno






















O primeiro quadrinho de que me lembro ter em mãos foi à revista X-men 2099 do artista Romlin (naquela época em que todos imitavam o quadrinista Jim Lee, até o nome deste desenhista chego a soar familiar, curioso não?) as historias eram enormes e complexas (o que fazia com que acompanhássemos com muito custo à revista) afinal o Real havia tomado lugar do cruzado e a economia começava a se recuperar numa época que o dinheiro não valia muito.
Foi à primeira revista que acompanhei do começo ao fim (foram quase trinta números) achava o máximo, queria desenhar igual a ele algum dia (na época mal sabia o que era Marvel, DC, muito menos Jim Lee) quadrinho para mim era turma da Mônica e olhe lá.

Anos mais tarde depois de acompanhar algumas revistas da Image desenhadas por Marc Silvestri, depois descobri Conan o bárbaro desenhado pelo mestre John Buscema, boas histórias, bons desenhos e sagas incríveis (como a Torre do Elefante) escritas pelo seu bom escudeiro Roy Thomas.
Meu pai gostava muito do desenho do Buscema e das histórias deste, por isso fomos completando a coleção indo repetidas vezes ao sebo do messias perto da brigadeiro luis antonio (enquanto ele levava livros raros de 1800 e 1700 e lá vai bordoada eu levava quadrinhos) o que garantiu um boas leituras, afinal do numero um da revista ao cem nos falta apenas uma edição (sorte minha e do dono do sebo) rsrs. De Conan, descobri Tintin do Hergé com A Estrela Misteriosa (agora em quadrinhos, antes só conhecia o desenho que passava na cultura) em seguida will Eisner com Moby Dick, Corto Maltese de Hugo Pratt com a Balada do Mar Salgado e finalmente Batman: o Cavaleiro das Trevas por Frank Miller e Lynn Varley.
Anos passaram e ingressei na escola Quanta em São Paulo e depois de certo tempo fui estudar quadrinhos com Marcelo Campos e Sergio Codespoti (ícones para mim do que acredito ser quadrinhos) com eles descobri uma infinidade de títulos, gêneros, gostos, estilos e nacionalidades de quadrinhos:

De Jack Kirby, David Mazuchelli, Joe Kubert, Hal Foster, Winsor Mcay, Will Esiner, Alex Raymond, Milton Caniff passando por Matt Wagner, Tim Sale, Robert Crumb, Charles Schulz até chegar em Mike Mignola, Eduardo Risso, Jose Ortiz, Ivo Milazzo, Serpiere, Milo Manara, Moebius, Guido Crepax (isso sem mencionar uma infinidade de outros excepcionais artistas desde estrangeiros a brasileiros, que não daria para enumerá-los todos sem se esquecer de algum, como é o caso de Ziraldo, Flávio Colin, Jayme Cortez, Nico Rosso, Eugênio Colonese, Fernando Gonzáles, laerte, angeli entre muitos outros).
Só a partir daí que tive uma noção do que realmente podia ser entendido como quadrinhos (antes achava que era história para criança, depois achei que era coisa de super-herói) por fim descobri que era muito mais que uma linguagem híbrida entre o texto e a imagem, mas sim uma bela e singular maneira de contar histórias, tão refinada quanto qualquer boa literatura ou arte de que se tenho lido, visto ou ouvido falar.
Ainda faltava um ponto nesta história toda...





















Passar da admiração de ler uma historia, ao prazer de produzir e desenhar uma coisa só sua (pelo menos a princípio) afinal nada mais natural para quem desenhava desde os dois anos de idade, e sonhava com isso boa parte da adolescência?
Digo que este capítulo ainda está sendo escrito, pois nunca me vi fazendo quadrinhos até então (apesar de ter sonhado com isso uma época, pois achei que seria o caminho mais natural para quem desenha) sempre vi dissociado o desenho, a ilustração e os quadrinhos, e quando fui estudar pintura e ilustração as áreas me soaram ainda mais distintas...
Só então à medida que o tempo foi passando e a minha percepção foi mudando é que comecei a integrar as coisas e vi meu sonho se materializar, afinal muda-se a linguagem, mas a expressão é a mesma (pelo menos à vontade de dizer algo) independente do que se use para ser ouvido (como no meu caso que sempre extravasei em outras formas de expressão artísticas como a música e a poesia, que por mais diferentes que sejam, são maneiras que encontrei para extravasar uma vontade latente de dizer algo... de dialogar de uma certa maneira).

Bom posto a seguir o resultado deste processo (que ainda segue em curso, sabe-se Deus onde isto vai parar... rsrs) espero que aproveitem tanto quanto eu aproveitei e me diverti fazendo cada uma destas páginas... Boa leitura e lembranças minhas a Jim Lee...




O sonho de todo quadrinista que se preze é de desenhar os personagens que nutria certo fascínio na infância e adolescência... Bom aí está o resultado, uma homenagem ao fisiculturista Lou ferrigno (que interpretou o Hulk no cinema no passado) e outra a um dos mais cultuados personagens de todos os tempos, que o Spiderman (de stan lee e Steve Dikto).

Homenagem a Lou Ferrigno (clique na imagem para ampliar)














Homenagem ao Menino Teia (clique na imagem para ampliar)












As duas páginas a seguir remetem ao hábito pouco comum de ler filosofia durante a noite (geralmente surge alguma idéia absurda, sem pé nem cabeça) e logo me vejo tentando um pouco transpor para o papel aquilo que vislumbrei nos livros:



Lições do pai de um príncipe pequeno (clique na imagem para ampliar)












Silogismos filosóficos (clique na imagem para ampliar)









Universo 3d (clique na imagem para ampliar)









A próxima hq é uma homenagem minha a Umberto Eco (que sublimando toda incongruência metafísica, mística e filosófica da historia das cruzadas e dos cavaleiros templários) retrata em um de seus livros este pedaço curioso da história. Nada mais que uma simples menção a um bom escritor:

Contrato social (clique na imagem para ampliar)












As três seguintes retratam fatos corriqueiros do dia que muitas vezes passam despercebidos, mas que tentei capturar e transformar em humor non-sense (ou escatológico) como costumam dizer alguns...Por mais estranho que isso soe (afinal escatologia pra mim sempre foi o estudo do fim dos tempos segundo a bíblia e não tem nenhuma ligação com humor) pelo menos não que eu saiba...akkaka

Kid Maromba (clique na imagem para ampliar)

















Egg's Man (clique na imagem para ampliar)

















Carlitos Tevez (clique na imagem para ampliar)


Música Eletrônica / artista convidada Dj´Flávia Liss

Flávia Liss

DJ / Guaratinguetá
Email:
dj.flavialiss@hotmail.com
Set disponivel para download no 4shared:

O poder da música na vida de cada pessoa!

Pode-se dizer com toda a certeza que a música é um meio de comunicação e entretenimento! Já não dá mais pra viver sem música.
Várias áreas de trabalho se usam a música, como a medicina, um meio de cura. Acredita-se que a música tem um efeito terapêutico, uma experiência feita por cientistas nos Estados Unidos, onde eles colocaram dentro de quartos separados, plantas com flores que tinham sido germinadas, crescidas e dadas flores ao mesmo tempo. Em um ambiente, as plantas ouviam músicas barrocas e no outro, as plantas ouviam música do tipo rock metal. Após 24hs e com o acompanhamento de quadros feitos pela câmera, pudemos observar, na medida em que o tempo passava, as que ouviam rock foram murchando e as outras ficaram mais viçosas como se estivessem mais alegres.















Bom essa experiência nos passa que a música tem sim um efeito positivo em nossas vidas, a música que envolve mais harmonia, melodias suaves e vocais harmônicos automaticamente nos transpassa alegria e uma sensação de bem estar. Mas não queremos colocar o estilo musical de cada pessoa a mesa, até porque cada pessoa tem um gosto próprio e o mundo da música está tão cheio de variedades que se pode agradar a todos os gostos.
Essa breve introdução foi apenas para enfatizar que a musica tem sim um poder incrível na vida das pessoas, e que hoje em dia é quase impossível passar o dia todo sem ouvir ao menos uma única musica.

Quero mesmo é apresentar a vocês o meu trabalho, sou Flávia Anelise mais conhecida como Deejay (DJ) Flávia Liss, exerço profissão a 1 ano e 7 meses e minha área de atuação é no Vale do Paraíba e cidades de Minas Gerais. Meu foco são casas noturnas, onde me apresento normalmente durante 1 ou 2 horas, o critério para a escolha do repertorio é de acordo com o publico e a pista de dança, o estilo musical que trabalho é a Musica Eletrônica.


O Disc Jóquei (DJ) tem um grande papel hoje em dia, é uma profissão que por sinal já tem mais de 50 anos, na década de 50 os Dj’s foram responsáveis por comandar as transmissões e as programações musicais das rádios. Um dos mais famosos e importantes Djs naqueles tempos foi Alan Freed, responsável pela popularização do rock, a partir do programa “Moondog Rock and Roll Party” transmitido nos Estados Unidos. Mais foi a partir dos anos 70 que o papel do dj se ampliou, com o objetivo de animar as pistas de dança, na época da discoteca, com versões mais prolongadas dos sucessos de musicas pop, eles passaram a fazer remixagens que se tornaram tão ou mais populares do que os sucessos originais.
Um dos resultados disso foi a criação de um mercado fonográfico com discos de vinil, com o aumento das novas tecnologias facilitou o processo de remixagens, reciclagem, desenvolvimento de novas musicas que ajudaram significativamente a vida dos dj’s.
No decorrer dos anos 90, os dj’s atingiram a condição de pop star.















Veio-me até uma historia engraçada, li um artigo uma vez dizendo que os djs eram tão sem importância que nos Estados Unidos, quando eles iriam se apresentar, eles ficavam escondidos atrás de uma cortina, e as caixas de som a frente, assim todo mundo sabia que havia alguém comandando o som, mas não tinha idéia de quem era.















Ao modo de pensar de muitas pessoas, que acham que o Brasil está atrás de muitos países como Estados Unidos e países da Europa, estão muito enganados, o Brasil possuiu atualmente, alguns dos melhores profissionais da musica eletrônica do mundo, transformando-se em palco de criação e desenvolvimento desde estilo musical. O dj’s hoje em dia é considerado um astro, ídolo de muitos jovens, um dos mais famosos djs é o Tiesto, que por sua vez arrasta milhões de pessoas em suas turnês pela Europa. O mercado da musica eletrônica é um dos que mais tem crescido em todo o mundo.

Bom espero que tenha passado um pouco do meu trabalho pra vocês, e independente da, idade, estilo musical, raça, crédulo, a musica está na vida de todas as pessoas, e é algo que marca pequenos momentos de nossa vida.

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Contos / artista convidada: Luana Câmara

Luana Câmara / Conto Ficcional

O que dizer desta garota?
A conheci um dia através de uma rede social na Internet (nada mais próprio para uma geek, fan de exatas como ela). Trocamos referências artísticas durante uma semana inteira pela tela fria do pc...
De Dostoievsky a Mayakovsky, de Aldous Huxley a Cranberries uma admiração profunda nasceu...
Quando vi, lá estavamos nós sentados no sofá de sua casa que fica no bairro jardim das indústrias, na cidade do avião também conhecida como São José dos Campos.
Eu dedilhava uns acordes menores e ela fazia sua voz de contralto ressoar pelos cômodos do lugar... Muito mais potente que bons amplificadores Marshal’s (fiquei abismado só de vê-la cantar) achei que as janelas da casa fossem se romper...hehehe.
Dona de uma de um espírito questionador e de uma sensibilidade incrível pra escrever, Luana Câmara também conhecida como (DEL para os amigos) encontra-se entre as poucas pessoas (especialmente garotas) da face da terra que consigo falar de filosofia, artes, literatura e religião sem que me tome por um completo NERD, que na atual conjuntura acaba não sendo tao má coisa assim, afinal todo mundo hoje anseia em ser “cult” não é mesmo? Mesmo que seja no discurso apenas...rsrs.
Versada em inglês, russo e espanhol, Luana reúne qualidades antagônicas numa só pessoa: como ser programadora e ao mesmo tempo cantora de banda de rock... Nada mais natural para uma menina de 19 anos que consegue andar de mãos dadas com a área de humanas e exatas com uma naturalidade que chega a incomodar...
Adjetivos não faltam para ela, e eu seguramente pasmo cada vez que leio apenas alguma coisa dela (chega a dar vergonha do que escrevo para não dizer o pior) ainda assim é com grande carinho e admiração que trago este conto roubado do blog dela que depois de certo tempo ela resolveu me ceder...
Boa leitura e não esqueçam de comentar no fim do post.
(Obrigado do texto Del... Ficou esplendido, estou esperando o próximo, Bj).


Coração de lata
texto:Luana Câmara
Ilustrações: ApolloMagno
















Era sol na Cidade do Avião.
7v4//4, sentada calmamente no banco de trás do carro, era um bebê de bochechas coradas e saudáveis.
Presa numa dessas cadeiras próprias para sua idade, 7v4//4 ainda balbuciava as primeiras sílabas quando aconteceu tal fato: seus pais, ambos voltando da Fábrica-da-imaginação, morreram num acidente de carro.
Quando chegou ao hospital, quase sem vida, 7v4//4 foi socorrida pelo Ministério-da-boa-vivência para que a cirurgia fosse executada: perdera parte do coração e todo o braço esquerdo por causa das partículas químicas cravadas, dolorosamente, em seu pequeno corpo. Procedimento? Um novo coração e uma prótese, o que deixaria sequelas e marcas, risos alheios na hora do recreio, choros noturnos abafados e problemas psicológicos eternos. Crianças humanas eram cruéis, desde que os Ômega25 eram conhecidos como PCs.
















Quando o caso tomou conhecimento do Ministério-da-amizade e dos Ômega25, todos se sensibilizaram. O que fazer, nesse caso? Já não bastava 7v4//4 ter ficado violentamente órfã, ainda sofrer tantos problemas graças a rústicos métodos da medicina?
- Demos-lhe um novo coração – disse o presidente dos Ômega25 com sua voz metálica.
- Sem dúvida – interrompeu o Ministro-da-amizade –, mas o procedimento é complicado e...
- Demos-lhe um coração Ômega25! – ordenou o presidente.
“Um coração de lata?” Pensaram os humanos da sala. Um bebê com coração Ômega25 seria metade humana, metade exata.
- Vamos, obedeçam minhas ordens! 7v4//4 será a primeira humana-robô de nossa história – sorria ele, através do plasma.
O silêncio pairava. Humanos entreolhavam-se. Ômegas25 se preparavam. Lã-de-vidro, fibra ótica, tecido humano e instrumentos cirúrgicos: mãos a obra.
Durante muito tempo, 7v4//4 foi um segredo de estado: nem mesmo ela própria sabera de seu coração exato. Isso não a diferenciava das outras meninas da sua idade: não gostava de matemática, como todos os humanos; se interessava pelo Ministério-da-moda como todas as meninas e queria chamar atenção dos meninos-humanos, como todas as humanas. Mesmo que nenhum deles chamassem a sua atenção.




















7v4//4 certa vez, entrou numa Retrô. Era uma loja modesta que vendia artigos do passado: tocadores de música, aspiradores de pó, e aqueles livros de contos que um dia ouvira falar. Curiosamente, abriu um deles, e, passando o olhar por uma das linhas iniciais, foi sutilmente interrompida:
- É chapéuzinho vermelho – disse um Ômega25, daqueles modelos novos, que muito lembravam a figura humana.
- Claro, meus pais sempre liam antes que eu dormisse – mentiu 7v4//4.
Silêncio. O Ômega25 parecia ler a mente de 7v4//4 e desvendar sua maior mentira: humana, sem pais.
- Não sei o que são pais – suspirou o Ômega.
- São o maior presente que se pode ter – disse 7v4//4, sendo levemente acompanhada por uma quase imperseptível voz de choro.
7v4//4 correu o olhar pela sala, parando em um antigo Ômega25, que era chamado de Desktop, no passado.
- É meu mais velho parente – riu o Ômega -. Prazer. Me chamo T3ci.
- 7v4//4, prazer – riu coradamente.















Muitos sóis passaram e 7v4//4, juntamente com T3ci foram com eles. Passaram tempos com amizade verdadeira, típica dos Ômega25.
- Preciso te contar uma coisa – disse T3ci.
- Sem problemas – sorriu 7v4//4.
- Acho que gosto de você.
- Não pode gostar de mim, T3ci. É um Ômega25. Tem coração de lata e mente sábia. O amor não é uma resposta sã.
- Aí você se engana – interrompeu - , pois sou a versão mais perfeita dos Ômega. Tenho coração humano feito de linhas de amizade, e mente lógica feita de dígitos de gente. Gente de verdade, como você. E sei que o amor é as asas da liberdade, mesmo que meu corpo seja feito de matéria reciclada.
- Mas um dia vou perecer, e o que será de você? – indagou 7v4//4.
- Nada, é assim que tem que ser – suspirou T3ci.
- Não posso – andou 7v4//4.
- É estranha! Até parece ter coração de lata! – resmungou T3ci -, mas eu te espero: teu tempo é diferente do meu.
Agora os olhos castanhos dela encaravam o cristal líquido dos dele.
Agora o coração dela clamava pelo dele.
Agora a mente dele processava muito mais confusamente que a dela.
-Posso saber, ao menos, o motivo?
-Claro, T3. Também estou apaixonada.

END

Poesia / artista convidada: Morgana Fonta

Palavras...
Prefácio por Apollomagno


O que são palavras?
O dicionário nos dá uma definição interessante para palavra como sendo: linguagem, vocábulo, termo, afirmação, compromisso de honra, expressão ou limite.

Mas será que além da importância etimológica da palavra, será que já nos demos conta da real importância que ela ocupa em nossas vidas?
Em certas culturas e religiões as palavras podem adquirir sentidos completamente distintos do que costumeiramente se poderia pensar...

A Kabalah Judaica, por exemplo, interpreta os Sagrados Textos Semíticos dando lhes outro significado diferente do que aparentemente está escrito em cima de cada palavra (tal como seus estudos sobre as infinitesimais variantes do nome de Deus) um fascinante exemplo de que é possível transcender o entendimento dando um valor abstrato e profundo ao que é aparente e visível.

A escrita egípcia também pode servir de exemplo, afinal era de caráter sacro e religioso reservado aos sacerdotes e faraós, iniciados nos ritos daquela cultura desde pequenos, conforme nos diz Heródoto em sua “História”, onde mais uma vez podemos ver as “palavras” (ou linguagem se preferir) sendo destinada a um fim religioso, maior do que o que estamos habituados costumeiramente.
Em se tratando de dar uma outra finalidade ao ato de utilizar as palavras podemos citar à conhecida sílaba mântrica OM utilizada atingir níveis mais elevados de consciência e percepção, isso sem mencionar as filosofias herméticas, as sociedades secretas, ou os “círculos” iniciáticos, que atribuem um caráter mágico, arcano e muitas vezes metafísico as palavras.


Partindo da esfera transcendental para a terrena, podemos ver outro exemplo igualmente interessante sobre a temática das palavras, agora nos antigos provérbios da sabedoria chinesa, aos quais cito alguns aqui:

“ Nos lábios mel no ventre uma espada” .
“ Palavras ríspidas e argumentos pobres nunca resolvem nada” ou “ As palavras mais significativas são aquelas que não são ditas.”

Já no norte da índia encontramos Sidarta Gautama, que também nos dá um contraponto importante e uma visão singular sobre as palavras em um de seus textos: “No início da vida, não nos expressamos com palavras, mas em um dado momento, todas as palavras já não conseguem nos expressar”.


Até Salomão, o famoso rei hebreu, descreve habilmente o ato de falar e sua influência na vida do homem: “Até o estulto quando se cala se passa por sábio”.
Como vimos, à percepção do homem em relação dar importância a sua linguagem não é característica de um só povo, cultura ou religião, mas de toda humanidade como um todo, afinal há tempos o homem percebeu que o ato de se comunicar, oralmente ou de forma escrita, ocupa um papel fundamental e transcendental em sua vida.

Usando as Escrituras Sagradas como exemplo novamente, especialmente aqui se tratando dos livros que são atribuídos a Moisés, (seja na Torah como é conhecida para os adeptos do judaísmo ou simplesmente Antigo Testamento para os cristãos: sejam estes católicos, protestantes ou anglicanos) em ambos casos o livro de Gênesis apresenta um valor criador à palavra, relatando que Deus criou o mundo do nada pelo poder de sua própria palavra, trazendo o mundo do vazio da existência que outrora havia (olhando por esse prisma não chega a ser difícil entender como as palavras são capazes de criar reações em nós, na sociedade e no universo... como crêem algumas crenças).


Outra passagem interessante agora no novo testamento no evangelho de S.João apresenta Cristo Jesus como verbo, palavra, dizendo: “ O Verbo se fez carne e habitou entre nós “ ou seja, Jesus era a própria “palavra” de Deus encarnada no meio dos homens. No mesmo texto encontramos outra referência interessante sobre Jesus, Deus e a trindade onde se lê: “No princípio, era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus” coincidências à parte, muitas culturas antiqüíssimas também atribuíam um valor quase que “mágico”, especial, divino ou importante às palavras.
A milenar cultura Árabe, por exemplo, também expressa belamente a importância que a palavra ocupa na vida do homem:

“A Língua mata mais homens do que a espada.”
“Não gaste duas palavras se uma única basta.”
Ou ainda “ Um mudo sensato vale mais do que um tolo que fala” (entre muito outros).

Um texto bíblico bastante conhecido que remete também a temática da palavra no âmbito humano nos diz o seguinte: “A boca fala do que o coração está cheio...”

Vendo por este ponto não chega a ser à toa o cuidado que um escritor, um diplomata ou um artista se dedica ao utilizá-las, afinal uma palavra dita sem pensar ou mal interpretada pode causar tamanho estrago, (haja vista a situação diplomática entre o Papa e o Extremo Oriente estes tempos atrás).
Afinal o que são palavras além de signos que têm o poder de trazer a existência: idéias, conceitos, representações, virtudes, sensações, vontades, desejos, sentimentos, imagens, objetos e intentos?
Palavras transcendem sua própria natureza fonética ou escrita, são umas das primeiras invenções do próprio homem, os corolários da própria condição da espécie humana, um atributo imanente e inseparável deste, que é a linguagem.


É por essa razão, devido ao carinho e a importância que observo cada vez que escrevo um texto ou leio um livro, que prefacio hoje o trabalho desta personalidade incrível, dotado de uma rara capacidade para a poesia, uma verdadeira artesã das na arte de “obrar” e criar com as palavras, como vocês a talentosa amiga e poetisa:

Morgana Fonta / Poetisa
Contato:
morganafonta@gmail.com













Imagens


Na estrada que percorro
Avisto muitas pedras
E todos os retratos
Que carrego em meus bolsos
Arremesso ao oceano
Amarro laços nos meus dedos
Pra não esquecer das dúvidas
E quando caio em meu deserto
Queimo os pés
sangro muito
Atrelada as correntes do passado
Hoje, no espelho em que me vejo presa
Escrevo cartas intermináveis
Com o sangue que escorreda faca afiada que são meus dedos.

Infinita demais


Demasiada sou eu.

Eu a quem a lua pede suplicante um olhar.
Eu a quem os astros jogaram na terra
Pra que não houvesse mais confusão no céu.
Sou aquela que morde, não beija.
A de unhas cravadas em suas costas,
A de felicidade espontânea,
De êxtase sem igual.
Sou feliz sozinha
E me viro só.
Se por essas ruas incertas ando
É que sei onde vou chegar.

Não tenho medo do escuro.
Não tenho medo da dor.
Já senti tudo isso,
Já provei teu sabor arisco
Que foge de mim sem pudor,
Mas não me esforço pra ser assim,
Sou simplesmente eu.
O que quero ser agora?
Recrio em mim mesma
E transformo em ideal,
Irreal, real,
Sem pudor de mim.

Inês

A tarde pôs - se vermelha por penitência
Ninguém ouviu o que eu tinha pra contar
Nenhuma dor agora importa,
Tanto faz se
Inês nasceu ou é morta.
Flores não dizem coisa nenhuma.
As flores estão mortas
Ou profundamente tortas,
E o que eu tinha pra contar
A tarde emudeceu.
Ela apagou,
Escureceu, nem avisou.
Fiquei triste, mas nascer e morrer é comigo.
Renasci,
Não sinto mais dor,
Só sinto pavor de não ter mudado muita coisa.
Não sei o que vi.
Nem sei explicar.
Devo ter morrido com Inês,
Ou quem sabe

Inês morreu comigo.
Não importa.
A esperança de ver outro pôr - do - sol
Vermelho como aquele,
é esperança morta.

(Tonho França e Morgana Fonta)

Ilustração / PPX Entrevista: Ricardo Antunes

Papel e pixels entrevista Ricardo Antunes
(Ilustrador) editor da Revista Ilustrar & autor do Guia do Ilustrador

Primeiramente gostaria de agradecer a gentileza com que Ricardo Antunes prontamente nos cedeu esta entrevista conferindo a oportunidade aos leitores, artistas e público em geral de entender um pouco mais sobre desenho, ilustração e mercado editorial num bate volta descontraído como este aqui...
Segundo, é importante dizer que Ricardo Antunes além de ilustrador, produz certamente uma das melhores revistas do mercado nacional voltada expecificamente a ilustração, trata-se da revista ILustrar que chega ao seu 12º número trazendo o que de há melhor tanto na ilustração nacional e internacional (e o que muita gente não sabe é que ela esta disponível gratuitamente para download em cada uma de suas edições no endereço):













www.revistailustrar.com

Sendo este fanzine voltado despretensiosamente as mais diversas manifestações artísticas e culturais, gostaríamos de te perguntar Ricardo:












(PPX)
Qual sua relação com o desenho e que importância ele ocupa em sua vida?


Ricardo Antunes: O desenho é tudo para mim. A imagem mais remota que tenho da minha infância é segurando um lápis na mão e rabiscando. Adoro desenhar, foi o que sempre quis fazer na vida até me tornar ilustrador profissional. Mas mesmo que eu não soubesse fazer nem uma casinha torta eu continuaria adorando o desenho e a ilustração como admirador do trabalho de diversos outros artistas. Sou mesmo um apaixonado pelo desenho...










(PPX)
O cartunista Ziraldo sempre incentivou em suas entrevistas a importância da leitura para uma boa formação do indivíduo. Além da leitura como você vê o papel da arte e da cultura como ferramentas de desenvolvimento pessoal e de cidadania?


Ricardo Antunes: Acho que a arte é sempre inspiradora, mesmo para quem não tenha qualquer vocação para a coisa, e de alguma forma traz sensibilidade às pessoas, e a cultura traz a inteligência, o raciocínio. Sem os dois um povo fica burro e selvagem, e infelizmente é mais ou menos o que vemos hoje em algumas regiões do Brasil.

Acredito que quanto mais um povo esteja envolvido com a arte e a cultura, mais se busca inspiração para uma vida melhor, mais saudável e com mais respeito, ou seja, um bem estar geral. E isso vale para todo tipo de arte e cultura: pintura, escultura, literatura, cinema, quadrinhos, teatro, etc.
Existe um filósofo japonês chamado Mokiti Okada, em que ele sempre acreditou que todas as formas de expressão artística são importantes para o bem estar e felicidade de um povo, em especial aquelas que levem ao bom e o belo, e ele dava um exemplo ingênuo mas verdadeiro: quando se encontra uma casa depredada, as pessoas que passam em frente dela costumam colaborar para que ela fique mais depredada ainda, jogando pedras, lixo, sujeira. Mas se você plantar uma flor em frente, e quanto mais flores plantar, menos as pessoas irão depredar a casa. Essa seria uma das funções da arte, fazer com que as pessoas se sintam inspiradas a algo melhor..












(PPX)
Entre os muitos segmentos que as artes gráficas podem convergir, por que a escolha da ilustração mais especificamente e como foi ingressar neste meio?


Ricardo Antunes: Eu comecei a estudar desenho de forma séria aos 14 anos, e na escola onde eu estudei haviam vários cursos, um deles de ilustração, e na hora me identifiquei com aquilo. A ilustração é ao mesmo tempo arte mas com uma função muito clara na forma de sua utilização. Cada ilustração é um novo desafio, com objetivos diferentes, funções diferentes, públicos diferentes, e essa imensa diversificação é que me atraiu bastante.Hoje posso estar trabalhando para um banco, amanhã para uma loja de brinquedos, depois para uma matéria sobre guerra, depois chocolate... são infinitas as variantes. E para cada trabalho existe toda uma pesquisa por trás, que acaba trazendo uma bagagem cultural enorme...














(PPX)
Aproveitando a deixa, cite os artistas que mais o influenciam ou que possua certo fascínio sobre sua obra.


Ricardo Antunes: Nossa, são tantos que não caberiam todos aqui, até porque todos os dias aparece sempre alguém que traz algo de novo para nossa alma. Mas de forma compacta, sem dúvida seriam: todos os pintores impressionistas, Rembrandt, William Turner, John Singer Sargent, Frazetta, Norman Rockwell, Charles Reid, Jayme Cortez, Manuel Victor Filho, Benício, Carlos Chagas, Massao Okinaka e muitos, muitos outros...













(PPX)
Parafraseando o que o Ilustrador americano Brad Holand disse em entrevista a Revista Ilustrar n.º3, de que uma ilustração é mais de que uma transposição literal de um texto para uma linguagem gráfica (tal como aquela idéia absurda que muitos tem que ilustrador é aquele que recheia um texto com figuras para aqueles que tem preguiça de ler se animem a tanto) qual o significado ou sentido que a ilustração possui para você?


Ricardo Antunes: Ilustração é comunicação, é informação, é conteúdo. Brad Holland está certo ao afirmar que ilustração não é apenas uma figurinha bonitinha enfeitando texto, ou que sirva só para os mais preguiçosos se sentirem estimulados a ler um texto. Ilustração é o complemento do próprio texto. Ele permite uma melhor compreensão de uma leitura, ou fazer com que um produto se torne mais atraente em sua venda, ou que uma idéia, conceito ou instituição sejam mais bem compreendidas. Uma boa ilustração é informação, e as vezes nem necessita de texto...











(PPX)
Num país onde pouquíssimas pessoas lêem, e onde um livro considerado best-seller significa não mais que poucos mil exemplares, porque fazer uma revista sobre Ilustração?

Ricardo Antunes: A Revista Ilustrar surgiu de uma necessidade básica: simplesmente não havia nenhuma revista no Brasil que tratasse exclusivamente sobre ilustração, feita por profissionais e dirigida a profissionais. Existem sim ótimas revistas que, entre outras coisas, também tratam de ilustração, como é o caso da formidável Revista Gráfica, do Miran. Mas tratando exclusivamente de ilustração, só a Ilustrar.
Além disso, a revista é direcionada a um público muito específico: ilustradores, artistas, diretores/editores de arte, estudantes de arte/ ilustração... ou seja, é um público que se interessa pelo assunto e busca informações a respeito da área e sobre os profissionais atuantes, por isso não atingiria exatamente a fatia da população brasileira que não tem interesse em leitura...










(PPX)
Como você vê o atual mercado Brasileiro de ilustração e se você acredita que as editoras têm dado o espaço devido a este tipo de segmento e quais as maiores dificuldades que um profissional de ilustração encontra atualmente?


Ricardo Antunes: Bem, o atual mercado de ilustração atravessa uma certa crise devido à crise financeira internacional, forçando as empresas a reduzirem custos, e isso em última análise afeta os ilustradores.
No caso das editoras, elas sentem isso e repassam o aperto aos seus fornecedores, o que é um problema. Para piorar, existem muitos pseudo-ilustradores, que mal sabem fazer um traço reto e só aprenderam a usar meia dúzia de filtros do Photoshop, e entram no mercado de ilustração achando que seria uma ótima oportunidade de ganhar dinheiro fácil sem estudar. Eles passam a trabalhar cobrando ridiculamente baixo, e acabam desestabilizando o mercado, oferecendo um preço muito baixo, mas sem qualidade nenhuma e sem um pingo de profissionalismo.
O problema é que o preço deles acaba se tornando referência, mas a qualidade não.No entanto, é importantíssimo deixar claro aqui que não existe apenas o mercado editorial para se trabalhar com ilustração, existem muitas outras áreas importantes e que vale a pena investir também, como a ilustração publicitária, conceptboards, storyboards, área de games, ilustração científica, concept de embalagens, etc.
É todo um universo onde cada área exigirá determinadas qualidades do ilustradores, se tornando mais especializado...













(PPX)
O que você diria para aqueles que tem interesse de ingressar neste tipo de mercado, quais os passos e o que você consideraria como importantes?


Ricardo Antunes: Existem 3 coisas fundamentais, e sem elas não se terá a menor chance de sucesso:


1) estudar e treinar;
2) estudar e treinar muito;
3) estudar e treinar mais ainda.













Tem muita molecada que acha que basta aprender uns truques no Photoshop, jogando um filtro sobre uma foto e já se consideram um puta ilustrador, achando que assim podem ganhar dinheiro fácil sem estudar nada. Na verdade eles estão enganando a eles próprios, porque só vão se queimar no mercado, fechando portas, e no final vão ficar mostrando desenhinhos para a tia e para os amigos em algum site do tipo Deviantart.
Quem quiser ser um profissional sério e respeitado, e principalmente ser bem sucedido, terá que estudar e treinar muito, de forma séria.Além dos estudos de desenho e pintura (tradicional e digital), sugiro que leiam o Guia do Ilustrador, é o mais importante guia de orientação profissional do Brasil:
















http://www.guiadoilustrador.com.br/

(PPX) Por ultimo quais são projetos para o futuro e o que os leitores da revista ilustrar (como eu) podem esperar daqui para frente nos próximos números?


Ricardo Antunes: A Revista Ilustrar é feita com o maior carinho do mundo, escolhendo a dedo apenas os melhores profissionais do mercado, mantendo dessa forma um alto nível de excelência profissional, para servirem de inspiração e orientação a todos os que queiram seguir na carreira de ilustrador. Que outro lugar se encontraria concentrado em um mesmo espaço nomes como Benício, Carlos Chagas, Alarcão, Jayme Cortez, Cárcamo, Baptistão, Negreiros, Brad Holland, Drew Struzan, Carlos Nine, Daniel Adel e tantos outros?
E todos compartilhando de forma generosa suas experiências e conhecimento.

Sinceramente, eu tenho um imenso orgulho da Revista Ilustrar, porque os nomes concentrados nela são únicos.
Mesmo assim a revista tenta crescer, como na edição nº12, onde criamos duas novas colunas, uma nacional e outra internacional.
Nenhuma revista do mundo tem como colunista fixo o Brad Holland, mas nós temos.Um outro projeto é, talvez, termos uma edição especial impressa por ano, mas isso ainda é apenas projeto. Também temos a idéia de abrir a loja, mas tudo isso fica para 2010.

Artes Plásticas / artista convidada: Talita Barbosa

Talita Barbosa

Artista Plástica / Lorena-sp
e-mail: talita_bar@yahoo.com.br

Com um estilo que muitas vezes remete uma linguagem urbana e contemporânea, Talita Barbosa desenvolve um trabalho autoral rico em cores fortes, elementos gráficos característicos, delineados por um traço vigoroso e preciso, que equilibra os elementos contrastantes de sua obra (por mais antagônico que isto possa parecer a princípio) ela consegue imprimir um ritmo agradável aos olhos do observador mesmo quando se utiliza de signos que destoam tanto entre si.



Coisas do acaso ou não, encontrei esta simpática artista quando cursamos juntos o mesmo curso de Design Gráfico e Webdesign daqui da cidade.
Apesar de sentarmos a poucos centímetros um do outro, mal sabíamos que tínhamos um mesmo gosto em comum (afinal quem poderia imaginar que também como eu, Talita abandonara a pacata tranqüilidade interiorana para se aventurar na capital em busca de conhecimento numa área tão difícil como esta).


A Primeira vez que mencionou em sala de aula que era artista plástica e que também produzia foi uma risada só, até o professor sucumbiu as gargalhadas (afinal imaginei que era o único “patinho feio em sala”) quem poderia imaginar que entre nós estava uma artista tão talentosa?

Os trabalhos que apresento a seguir fizeram parte da exposição “Nossos Índios, nossa história” realizada em 2006 pelo Centro Cultural Teresa D´Ávila pela Fatea de Lorena há alguns anos e que Talita cedeu com o maior carinho a esta edição.

A seguir uma bacana resenha falando da proposta da exposição por Sônia Siqueira (que por tabela expõe um tema muito atual em nossos dias, que é a discussão de arte e cultura).
Espero que curtam tanto quanto eu, afinal não é sempre que uma colega de classe vira artista da noite para o dia (rsrs) não é mesmo?
(Boa leitura e não esqueçam de comentar no final do post).


“Nossos Índios, Nossa História”
por Talita Barbosa
prefácio por Sônia Siqueira.



"Uma mesma civilização produz simultaneamente duas coisas tão diferentes como um poema de T. S. Eliot e uma canção de Pan Alley, ou uma pintura de Braque e uma capa do Saturday Evening Post. Todas elas são manifestações culturais e, aparentemente, fazem parte da mesma cultura e são produtos da mesma sociedade. No entanto, sua associação parece terminar aqui". (GREENBERG,1996, p.22)

Neste texto Greenberg, um dos teóricos da "action painting", voltou-se para a arte e a cultura de massa. As duas, afirmou o crítico, existem e são produzidas na mesma sociedade, aparentemente como elementos de uma única cultura. Entretanto, atacou o que via como kitsch de seu tempo – música popular, ilustração de revista e a arte acadêmica.
O destino da arte contemporânea afastou-se da idéia de assumir o domínio sobre a vida e impor a ela o grande estilo para abrir-se para vida por meio da "arte cultural", uma arte que suscita discussões em torno das formas visuais e corporificações das relações de poder na cultura como um todo; que usa uma linguagem passível de ser decodificada por cada espectador sem a mediação do crítico, do especialista. A arte, enfim, assimila o estilo do mundo. "[...] As práticas e valores das belas-artes ou da “arte culta”, exemplificados pelas noções modernistas de “autonomia e autocrítica”[...](WOOD, 1998,p.71), não podem ser mobilizados no contexto atual em que os objetos do dia a dia, os objetos de consumo, foram retificados e adquiriram valor estético, e a questão do valor da reprodução insigne tomou o lugar da questão da produção da idéia artística.


Neste mundo de belas imagens, em que a própria imagem publicitária tornou-se uma mercadoria, em vez de simplesmente anunciá-la, e comportar-se em sua estética de maneira quase autônoma, como se prescindisse das mercadorias: ela vende a si mesma. Como produto de massa, a publicidade ofusca a visão do objeto e oculta a ilusão, que é sua verdadeira natureza, atrás do pretenso efeito das mercadorias que exalta. Nessa estratégia da aparência tornou-se a rival indesejada da arte. Ela também estetizou nosso ambiente de maneira tão desinibida que arrebata à arte alguns de seus domínios públicos. Numa brincadeira de gato e rato, restando à arte transformar em tema a ilusão que é desmentida insistentemente nos produtos publicitários. É neste espaço conquistado e/ou permitido às vanguardas que se insere o trabalho de Talita Barbosa: Nossos Índios, nossa história.

Talita não faz dele um panfleto contra a situação do indígena brasileiro ou transforma, nas telas, yanomamis, arawetés, guaranis mbya, pataxós, mehinakus, yudjás, kayapós, enawenê nawês em ícones do massacre imposto pelo branco, pela cultura ocidental. Muito pelo contrário, lança mão de elementos da cultura de massa, da propaganda para ressaltar a especificidade da cultura indígena. "Hoje não mais se assimila cultura pela observação silenciosa como se olha uma imagem fixamente emoldurada, mas numa apresentação interativa, tal como um espetáculo coletivo. [...] Desaparece também a paciência para o exercício cultural obrigatório e surge o desejo pela cultura como entretenimento, que deve causar surpresa em vez de ensinar. [...] Em vez de representar a cultura e a sua história de maneira rigorosa e irrepreensível, a arte participa de rituais de rememoração ou, conforme o nível de formação do público, de revista de entretenimento na qual a cultura é solicitada a entrar em cena novamente." (BELTING, 2006, p.26)


Esta é, em síntese, a proposta de Talita Barbosa, "cultura como entretenimento, que deve causar surpresa em vez de ensinar. [...]revista de entretenimento". Os índios, as nações, são apresentados em cartuns com tarjas que lembram fotogramas, em cores fortes, traços precisos e econômicos, formas simplificadas que se remetem aos personagens de South Park, muitos adereços e pinturas corporais.
Os sinais da submissão, da perda da identidade cultural, os ritos de passagem ou de guerra foram subvertidos pelo cartum, pelos fotogramas, cores, linhas, signos, enfeites que lembram cenários midiáticos, porque o espectador atual exige "[...] a realidade de reprodução das mídias imagéticas.[...]" (BELTING, 2006, p.113) Fato este que Walter Benjamin jamais podia imaginar quando escreveu sobre arte concebida para a reprodutividade.



Referências Biográficas:

BELTING, Hans. O fim da história da arte: uma revisão dez anos depois. São Paulo: Cosac & Naify, 2006.
GREENBERG, Clement. Vanguard e kitsh. In: Arte e cultura: ensaios críticos. São Paulo: Ed. Ática, 1996. p.22-39.
WOOD, Paul et al. Modernismo em disputa: a arte desde os anos quarenta. São Paulo: Cosac & Naify, 1998.