sábado, 19 de setembro de 2009

Editorial

Papel & Pixels nº1 / Setembro 2009
Editorial




















Putz parece sonho...Será que exagerei na minha grama de “soma” diária?
- Alguém me belisca aí!
- Aaaaaau, era só brincadeira...(rsrs).
Hematomas à parte, a realidade acaba sendo mais fantástica do que se imagina (que o diga Jacques Bergier, Charles Fort e Lowis Palwels) afinal vejo hoje mais um ciclo terminando pra que outro tome seu lugar... Será verdade? Dessa vez sim.

Quando moleque sempre ouvia meu tio brigar comigo a respeito de meus desenhos (no bom sentido, diga-se de passagem).
Eu o visitava no meu período de férias escolares ali em sua casa no Butantã e passava as horas preciosas do descanso dele vendo-o desenhar, fazer esculturas e ouvindo-o falar a respeito de arte, música, literatura enquanto espreguiçava minhas costas cansadas de ficar debruçado horas na prancheta.

De origem interiorana e humilde como eu, António de Pádua (eu o sempre chamava de Tio Toninho) sempre foi um inquietante e talentoso artista, saíra do interior do estado onde passava os períodos de ócio na agricultura e pecuária familiar a desenhar burros xucros, palmeiras e sertanejos, e mudara-se para São Paulo para estudar artes. Formara-se pela fundação Armando Álvares Penteado ainda jovem, e de uma carreira promissora nas artes plásticas (acabou-se enveredando na televisão como aderecista e hoje como cenógrafo na Redetv ainda utiliza seus vigorosos traços para construir belos cenários).
O tenho como meu primeiro mestre ou “mecenas” (ele sempre me dava algumas folhas bacanas de craft, uma crítica construtiva a respeito do trabalho e uma janta bem quentinha no fim de noite) hehehe.
Sempre me impressionei com tanto talento numa pessoa só, desde seus desenhos antigos da época da fazenda (que eu amava e ele achava acadêmico) até suas obras conceituais que muitos não entendiam (mas que sempre achei inquietantes e questionadoras) fora às conversas incomuns que tínhamos durante altas horas da noite.
Foi ele quem me incentivou ao primeiro caderno de esboços, que me estimulou muitas vezes quando olhava para meus traços e eu não via mais que rabiscos (felizmente ele via algo mais) e me mostrou o bê-á-bá do negócio. Tenho um profundo respeito por sua pessoa afinal teve a mesma origem que a minha, passou as mesmas aflições que todos passam com o desenho, desde o trabalhoso processo de aprendizagem até a inquietante etapa onde definimos um fim para tudo aquilo, seja como hobby, profissão ou mesmo para entulhar gavetas.

Numa daquelas noites frias de São Paulo discutimos até altas horas da noite tomando xícaras de café amargo enquanto David Coverdale, Beach Boys ou a trilha sonora do filme Transpoting tocava no CD Player.
A tônica da descontraída palestra era sobre a inércia, mas não tendo em vista o aspecto cartesiano da palavra, mas sim refletindo sobre um prisma totalmente diferente para mim.
Ele falava sobre uma linha imaginária que muitos tentavam ultrapassar, mas não conseguiam e de como era rara e ínfima a quantidade de pessoas (ou artistas) que contribuíam para que aquela linha avança-se apenas alguns milímetros (chego a pensar na Grande Obra dos alquimistas), mas não era disto que ele estava falando.

- A linha estava lá diante de todos, você não vê?
- Mas quem se atreve?

- É preciso vencer a inércia (ele dizia)...
- É preciso vencer esta maldita inércia que nos entorpece (eu pensava).

As palavras dele ecoaram por tempos até que me esqueci por completo (pelo menos aparentemente) foram ressurgir anos mais tardes quando me mudei para São Paulo e freqüentei academias de arte. Amigos, professores e artistas diziam a mesma coisa respeito do meu trabalho:
- Faça alguma coisa, produza algo, sei lá... Resumindo, rompa com a inércia.

Romper com a inércia não é fácil, (essas horas gostaria de estar deitado na minha cama solando uma pentatônica), mas acho que não seria tão proveitoso quanto estar aqui escrevendo, afinal à medida que me dispus a esta proposta, os trabalhos foram surgindo vigorosos, os amigos artistas foram se juntando, a sinergia foi acontecendo, quando vi tinha um material humano interessante demais para engavetar.
Não sei quantos números este blog-zine vai render (afinal tive a idéia de fazer na net porque e tirando a preguiça, não ia ter outra desculpa do tipo não tenho grana para custear o papel ou algo do tipo).

Neste número, uma salada mista bem bacana de quadrinhos com temática incomum (por este que vos fala), um conto geek pela admirável cantora Luana Câmara (uma mente perspicaz demais para apenas 19 anos), as poesias viscerais de Morgana Fonta, uma interessante matéria sobre música eletrônica pela DJ Flávia Liss, o trabalho singular da artista Plástica Talita Barbosa além de uma entrevista bacana com o editor de a Revista Ilustrar sobre desenho, ilustração e mercado editorial.
Espero que aproveitem tanto quanto eu:

- Afinal é preciso romper a inércia... Abraço.

(o editor)

2 comentários:

  1. Meu caro Primo,

    É deveras singular sua história com nosso tio, que em minha vida também deixou sua marca. Quero aqui contribuir com um depoimento sobre minha infância e nosso querido tio.
    Em minhas férias escolares, sempre passei as férias na casa de minha avó materna, na querida roça, era pra mim uma segunda casa. Em uma dessas férias nosso tio quebrou a perna caindo do cavalo (literalmente) e ficou de molho na casa de sua mãe, minha avó. Daí ele ficava de pernas pra cima e eu tinha que servi-lo por orientações expressas de minha avó, a minha revelia. Mas o melhor ainda está por vir, esse tio tinha um kit de entalhar madeira, que ele vivia usando, daí ele me deixava brincar um pouco e depois eu devolvia. Meu avô havia mandado que ele limpasse o pomar das laranjeiras, tirasse a "erva de passarinho", daí meu tio disse que se eu tirasse ele me daria um daqueles sonhados kits. Eu limpei o pomar com afinco e no final acabei não ganhando o prêmio. Depois de horas de terapia consegui superar esse trauma de infância...
    Brincadeiras a parte, hoje somos grandes amigos de ideias e copos...

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  2. Cara òtima idéia,mais um espaço para aqueles que pretendem mostrar os seus trabalhos.
    Espero logo publicar material aqui no blog, me diz como devo fazer para enviar trabalhos,e já tenho algumas páginas de hqs.

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